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Esse é o Portal do Grupo Gay da Bahia

29 de fevereiro de 1980 nasceu em Salvador o Grupo Gay da Bahia. Entidade que já é patrimônio imaterial dos LGBT da Bahia e do Brasil, considerado “Orgulho da Bahia” por Caetano Veloso comemora os seus 38 anos bem assumidos!

Protestos Contra os Países Africanos, em Salvador, Reunião da Diáspora.

Salvador, Bahia, 28 de fevereiro de 2018, ás 23h27 por:  Marcelo Cerqueira. Amanhã, quinta-feira, dia 1 de março, vamos fazer como se fosse dia 29, porque esse fevereiro, não teve a data, qual  o destemido Grupo Gay da Bahia (GGB), amado por uns, odiado por muitos, justo por seu posicionamento intransigente na defesa do que acreditamos, com a idade ficamos mais tranquilos, a idade traz essa sensação, mas nunca nós calamos diante de opressões.

2ª Conferência LGBT
Na foto: Luis Mott, presidente do GGB
Fotos: Mateus Pereira/Secom

 

É com a sensação de termos feito a nossa parte no combate as intolerâncias, é que comemoramos 38 anos bem assumidos.

 

O GGB foi fundado pelo professor paulistano bandeirante Luiz Mott, recém-chegado à capital baiana. Naquela época Mott residia na Barra, e uma vez no Farol, andando de mãos dadas com Aroldo Assunção, foi alvo de um violento soco no rosto. Nesse mesmo mês, Mott publicou um anúncio no jornal “O Lampião da Esquina” com o endereço de sua casa “Bichas, vamos rodar a baiana”, o anúncio funcionou e apareceram algumas pessoas assustadíssimas nas primeiras reuniões que eram realizadas na sede do jornal Inimigo do Rei, editados por Ricardo Liper, Tony Pacheco e Alex Ferraz.

Nessa época ainda havia atuação do Sistema de Repressão, por ser o Figueiredo último General Presidente. O GGB nasceu com forte tendência anarquista, avesso a organização burocrata. De lá mudou-se para o Edifício Derby que funcionava na escadaria da igreja da Barroquinha, era uma kit net pequeníssima, e as pessoas se amontoavam para as reuniões que ocorriam as terças e sextas-feiras.

 

Cristiano Santos, vice presidente acompanhando casal de gay pernambucano.

Em 1982 Luiz Mott depois de muito debate decidiu registrar os Estatutos do Grupo em um Cartório de registro de Títulos e Documentos, recebendo a negativa fundamentada em que esse tipo de registro deveria ser autorizado pela Polícia Federal, e não registrou os documentos. Através de liminar o Juiz Gudesten Soares, do Município de Lauro de Freitas, que determinou o registro cartorial do Grupo Gay da Bahia como sociedade civil, nesse mesmo ano tivemos o Registro de Pessoa Jurídica pelo Ministério da Fazenda. O GGB, foi a primeira Ong do gênero que foi registrado em cartório e possuir CNPJ. Já o ex-vereador municipal de Salvador Raimundo Jorge autor da Lei Municipal n.3725/1987 conferiu pela primeira vez no país o status de Utilidade Pública Municipal ao Grupo Gay da Bahia.

 

Os anos de 1980 até 1989 foram os piores de todos em relação ao preconceito e discriminação, muita intolerância da sociedade, institucional, as pessoas eram presas por vadiagem apenas por circular na rua sem portar Carteira de Trabalho. Essas pessoas eram conduzidas, travestis, putas para a Delegacia de Jogos e Costumes, e lá ficavam presas, fazendo faxina nos banheiros, ou mesmo sendo torturadas por delegados que retiravam o esmalte das unhas com tampinha de garrafa. As bichas de rua para não serem presas se mutilavam, cortavam os braços, haviam algumas delas que exibiam cicatrizes enormes em toda extensão dos braços. Se a bicha se cortasse, eles não levavam.

 

Marcelo Cerqueira, presidente.

Luiz Mott, decano do Movimento LGBT Brasileiro, acompanhou e denunciou tudo isso, por meio do Boletim do GGB, que era feito por meio de um mimeografo com tinta azul e álcool. Mott as vezes era um Dom Quixote ou um Moises falando no deserto, havia muita insensibilidade das bichas classe média, e assim, o GGB sempre abrigou as bichas sem classe, sem nada, mas com vontade de viver em um mundo melhor. Luiz Mott, teve de enfrentar a ofensa diária do jornalista Berbet de Castro, que escrevia impunimente no A Tarde “Mantenha a cidade Limpa, Mate uma Bicha por dia”, ou ainda “Matar veados não é crime, é caçada”, Berbert, se referia aos homossexuais como “falsos ao corpo”, e os ataques eram diários e seguiram ultrapassando os anos noventa. No Jornal A Tarde, por determinação do editor Joaquim Alves Cruz Rios, descendente de família traficante de escravos da África para o Brasil, mantinha a orientação da proibição através de circular das palavras “Homossexual, Luiz Mott, Gay”, exceto em páginas policiais. Diante da intransigência de Berbert em manter-se calunioso e ofensivo, o GGB, bravamente organizou um ato frente a casa de uma das donas do jornal, Vera Simões de Benville, protesto discreto com a finalidade de sensibiliza-la para a causa, posto que dona Regina Simões, que morava no Rio de Janeiro, também não se importava, como supostamente ela sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), não era muito chegada a contatos, diálogos e presença em multidão, era uma dama elegantíssima, mas nem ela nem dona Vera se metiam nas coisas da redação, o problema continuou. Já que o A Tarde não dava as notícias do GGB, a Tribuna da Bahia e o Correio que se posicionava no segundo lugar nesses anos.

 

 

Os releases eram entregues pessoalmente, não tinha Fax´s , Mott escrevia na Olivete TE315, e eu iria entregar muitas vezes, quando ele não ia com a sua motoca. Nossa história está toda registrada nas páginas do Jornal Correio da Bahia, nos primeiros anos pela saudosa Ana Lúcia Magalhães (1986), que como Luz Del Fuego, não tinha medo, ela também foi para o céu, mais cedo. E na Tribuna, Raimundo Santana e Mara Campos.

A braveza de Mott e do GGB, foi ter enfrentado a epidemia da Aids, sozinho. Ele, Dra Nanci, Carlos Brites, Badaró, e tantos outros que cuidaram do paciente zero na Bahia. Mott sabia que a camisinha era a barreira física eficaz contra a transmissão do HIV, inclusive teve de defender isso, porque alguns ativistas questionavam, e acusavam a medicalização da sexualidade.

Centro de Referência LGBT da Cidade do Salvador. Decreto do Prefeito ACM Neto.

 

Mott sabia disso, por ter recebido informações através da ILGA sobre a doença, e ainda, começaram a chegar em nossa caixa postal no Correio da Ruy Barbosa, caixas e caixas de preservativos, coloridos e com cheiro de frutas as bichas adoravam. O GGB se orgulha de ter disseminado o conceito de Safer Sex no Brasil “Sexo Seguro” fazendo uso do preservativo, a entidade foi reconhecida pelo Ministério da Saúde como Melhores Práticas de Prevenção.

 

Ativista (e) João Antonio Mascarenhas, Rio de Janeiro, RJ. 

Na segunda metade dos anos de 1990, a luta foi para inserir na “Assembleia Constituinte de 1988 a expressão orientação sexual” essa tarefa ficou com o ativista João Antônio Mascarenhas, que discursou, favorável, assim, como também fez a deputada baiana Lídice da Mata na defesa da inclusão, mas não passou é uma luta até hoje, diante desse Congresso corrompido.

Deputada Constituinte (1988), Lídice da Mata, hoje Senadora da República. 

 

Depois dessa derrota começamos trabalhas as Constituições Municipais, Salvador, e tantas outras, mais de noventa Leis Orgânicas colocaram no seu capitulo I a expressão “Orientação sexual” juntos as proibições. Paralelo a isso tudo Mott iniciou uma Campanha Nacional pela retirada do “homossexualismo” da categoria de doença do INPS.

Em 17 de maio de 1990 o código 302.0 (Homossexualismo) foi retirado da Classificação Internacional de Doenças (CID). Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrida nessa data em Viena na Áustria. Com esta providência a OMS reconheceu que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. O voto da Bahia, foi garantido pela médica forense Maria Tereza Pacheco, discípula de Estácio de Lima, por muitos anos Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues(IML), aqui em Salvador, na Curva Grande. Sinto-me feliz por ter sido eu um jovem ativista a ter acesso a essa insigne médica baiana, homenagiadíssima em todas as áreas. Fiz isso em um agradável papo com ela no seu apartamento na Avenida Princesa Isabel, na Barra.

Médica Forense, Diretora do IML, Dra Maria Tereza Pacheco foi o voto sim da Bahia para a retirada 302.0 na Conferência da OMS em Viena na Áustria, 17 de maio de 1990. 

 

O GGB se notabilizou na pesquisa através da coleta e sistematização dos crimes violentos praticados contra LGBT no Brasil, e a cada ano produzimos um relatório de vergonha, dor e sangue, o pior é que anda muda, as bichas não fazem um manejo dos seus estilos de vida, as autoridades olham de esgueira para as nossas estatísticas, alguns LGBTs tentam desqualificar o nosso trabalho, interpretação dessa realidade cruel, por algum tipo de insensibilidade deles, o que é deplorável l.

 

 

Hoje aos 38 anos, depois de fazer tudo, depois de Mott ter feito tudo e mais um pouco na ampliação dos direitos dessa categoria, ou dessas categorias, que segundo Mott, não entendem muitas vezes que esse não é um movimento só de uma pessoa, de uma bicha neoliberal, que acredita que ela sozinha resolve tudo, mas o movimento deve-se compreender, e o GGB tem esse entendimento, que é algo muito mais forte e poderoso que é um braço forte de um coisa maior, que envolve Mulher, homens, crianças, negros, tudo os oprimidos, todos aqueles que um dia não pode se representar, mas que agora já estão fortalecidos para fazer isso.

 

Nesses trinta e oito anos do GGB a mensagem principal do Professor Doutor Luiz Mott, 67 anos, Decano do Movimento Nacional LGBT, é que mesmo diante de tanta liberdade, inclusive das mídias sociais, é que não estamos seguros. “A proteção de cada um está na organização de todos, uns protegendo os outros”, Mott acredita ainda que o mundo pós-moderno, as influencias do neoliberalismo, as novas identidades de gêneros, que reivindicam espaço dentro e fora do movimento, são legitimas, mas, ainda é preciso encontrar agendas comuns a todos, o que seria um desafio grande de dar-se considerando que essa população é multifacetada, dividida em classes sociais distintas e subdivididas em cor, territórios de circulação e local de moradia nos grandes centros urbanos.

 

Premiação do Grupo Gay da Bahia, 17a Parada LGBT da Bahia. 

O GGB, sendo u m grupo misto composto por gays e trans, se solidariza com as lutas das mulheres no combate ao machismo, na promoção da igualdade de gênero, combate ao racismo e os feminicídios.

 

Moema Gramacho, agraciada pela criação do Departamento LGBT de Lauro de Freitas. 

Acompanhe ons nossos videos realizados a partir dos anos. A Propeg foi a agência quem mais produziu coisas para nós. 

 

 

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=Y3CV3Z8vrFE

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=00O3rqs6iGI

CAMPANHAS REALIZADAS PELA PROPEG BAHIA PARA O GGB.

 

 

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