Do Correio da Bahia, canal Me Solte. Salvador, 14/04/2016 .Essa semana, o Grupo Gay da Bahia (GGB) comemorou 36 anos de fundação. O Me Salte conversou com Marcelo Cerqueira, professor, ativista LGBT e presidente do GGB para falar sobre as questões mais sensíveis à causa. Ele também adianta algumas das ações que acontecerão em setembro na parada do orgulho LGBT. Veja a entrevista:
Me Salte – Em mais de 30 anos de história, quais os momentos mais simbólicos de luta do GGB?
Marcelo Cerqueira – Muitas! A resposta ao impacto do HIV junto à comunidade, desenvolvemos a ideia de sexo seguro com o uso do preservativo, em uma época que muitos líderes contrários à medicalização da homossexualidade acreditavam que o preservativo era interferência médica na nossa sexualidade, isso era um reflexo das teorias médicas sobre a origem da homossexualidade, que os ativistas criticavam nos anos 80. Pontuo o Registro do GGB como sociedade civil (1981), titulo de utilidade pública pela Câmara Municipal de Salvador em 1985, derrubada do código 302.0 do antigo INPS, que classificava a homossexualidade como doença. Isso foi incrível, graças ao trabalho de Luiz Mott, fundador, que fez um abaixo assinado nacional coletando 16 mil assinaturas, incluindo nomes conhecidos como Rute Cardoso, FHC, Tancredo Neves, Ivete Vargas e o jurista Raimundo Faoro.
MS – Como o GGB tem procurado interagir com os novos anseios da comunidade LGBTT e também com as suas mudanças de comportamentos?
MC – Mesmo com as mudanças, existem coisas que parecem eternas como a homo, lesbo, trans e bifobia. As pessoas ainda são discriminadas, difamadas e executadas por sua orientação sexual, o GGB oferece suporte nesses momentos de dor. Hoje temos um protagonismo mais forte dos jovens, graças a internet que facilita a informação e isso deu muito poder ao indivíduo, fazendo com que ele mesmo se organize em redes, grupos, inclusive, independe de organização institucional. Incluímos outras pautas como a emergência da agenda das pessoas trans, não binarias, aborto, drogas, LGBT de periferias onde as identidades se desenvolvem.
MS – Como o GGB enxerga e trabalha as novas questões de gênero?
MC – Que é preciso radicalizar no discurso político a ideia da diversidade de gênero, no sentido de que existem várias maneiras de ser homem, mulher e diversas orientações sexuais que reivindicam espaço o que muito natural. Vivemos em um mundo de culturalidade, tudo é cultura, transformação e jogo de poder variando do momento histórico. Antes era o cristalizado, usado para manter o sistema político. Mas, hoje em dia, aquele que era real, ”essencial cristal”, cederam lugar para o que chamamos na pós-modernidade de gêneros fluídos ou flutuantes. Relaciona-se com a questão da “quarta onda feminista”, a pessoa é o que ela acredita ser, escolhido de forma livre por ela mesma. Hoje eu sou homem, amanhã posso ser mulher, travesti, uma trans lésbica, um homem trans, posso ser andrógina, fechativa, transar com mulher, viver poliamor um homem e duas mulheres, e não existe nenhuma vergonha nisso. Existe uma tendência de aceitar, por consideração, as individualidades, mas o mundo contemporâneo é muito individual, a pessoa pode fazer o que quiser com o corpo, mas ela necessita continuar andando, porque se ela cai é muito difícil levantar-se, junto por esse individual que todos só pensam em si. A internet tem grande influência em tudo isso, e eu penso que o “Me Salte” é um sinal positivo desse movimento na região.
MS – Na sua atuação à frente da entidade como você tem conseguido trazer o foco das atenções para a causa?
MC – Bom, eu sou muito criativo. E tenho usado da criatividade e também do humor para falar desses temas. Mott, sempre tem a fama de durão, xerife gay, capitão motinha, eu sou mais leve, ao menos é isso que dizem. As denúncias dos crimes homofóbicos é algo que pauta a mídia nacional para a causa. O GGB realiza pesquisa nacional coletando essas ocorrências e publicando em nosso site www.quemahomofobiamatouhoje.com.br ao final produzimos um dossiê virtual que serve para sugerir politicas públicas. Ficamos atentos no combate às expressões e comportamentos que denotem homofobia, realizamos atividades culturais como a V Semana da Diversidade e 15ª Parada LGBT da Bahia, que é um evento de visibilidade massiva, que envolve mais de 800 mil pessoas a cada ano.
MS – Esse ano a parada do orgulho terá pela primeira vez a chancela LGBT e não apenas gay. A que você atribui essa mudança?
MC – É um reflexo da culturalidade e solidariedade às novas orientações sexuais que reivindicam espaço social, de palavras e poder. É uma forma de interagir com os anseios da comunidade, que é diversificada socialmente, economicamente, cultural e racialmente. De modo geral, a palavra gay é mais palatável junto à população, além de ser mais harmoniosa na publicidade. Entretanto, consideramos que é preciso educar a população para conviver com essa realidade que a sigla LGBT representa, dentro da comunidade somos iguais em direitos, mas distintos em especificidades. A decisão de mudar também é uma forma de incluir as pautas das pessoas transexuais, que começaram a conviver comigo e com o grupo de forma harmoniosa como Millena Passos, Keila Simpson, Alessandra Hilary, Luana Verneck, Monalisa Trussardi, Paullete, Ariane, Inês Silva, Ranela Márcia, Thatiane Araujo, Bruna Menezes e meu primo João Hugo, homem trans. A 15ª Parada LGBT da Bahia acontece no dia 11 de setembro. O tema escolhido é “Uma vida sem violência é um direito das pessoas trans”. Dentro da programação diversas atividades culturais e debates. Nos dias 6 e 8, em parceria com o Ministério Público da Bahia, acontece o seminário “ Homofobia e crimes de ódio”, a ideia do evento trabalhar a definição de homofobia e a temporalidade dos processos envolvendo a delegacia de policia, o MP e o Judiciário.
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Uma resposta
A OCASIÃO QUE UM HOMEM MAIS GOSTA
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