Essa fase que em Salvador os gays eram afrontados pelas difamações, pela polícia que tratava sem nenhum respeito, faziam batidas na boate Tropical, rua do Pau da Bandeira, chegava hostilizado ” viados de um lado e caçador do outro” mandava acender a luzes branca, as pessoas ficarem de cara com as paredes, aterrorizadas esperando um golpe, depois da exibição de força, escolhiam uns, sem motivo aparente jogavam no camburão seguiam para delegacia. As travestis do Centro usavam o “ habeas corpus” da gilete para cortar os braços, não apanhar da polícia e não serem presas. Quando o “aliban” se aproximava, elas mostravam o sangue. Eu vi tantas várias com cicatrizes medonhas nos braços, uma tristeza. As delegacias mais pareciam com um estabulo, era como fosse natural os policiais pegarem bichas na rua e mandar lavar banheiros.
Ainda nos hostilizavam na rua como “ditos culpados e apontados como os principais transmissores do HIV”. Enfrentávamos uma constante guerra de nervos. Bastante humilhação nas ruas e exacerbação do preconceito, muitas vezes com agressão física. Os turistas estrangeiros que andavam na rua eram “chamados de peste gay” a ignorância era o normal.
Certos setores da mídia na Bahia nos tinham aversão, indiferença ou desprezo e a nossa saída, a grande investida do GGB naqueles difíceis anos foi manter-se coerente, politicamente correto e aprofundar-se nos postulados científicos que garantiram o conhecimento e as armas de defesa contra os reacionários, homofóbicos e ignorantes de plantão e pela mudança do código de classificação de doenças do Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, extinto), que descrevia a homossexualidade como “desvio ou transtorno sexual”. Produzimos muita originalidade e traduzimos muito material que recebíamos dos Estados Unidos, especialmente sobre o vírus HIV. Defendemos o uso do preservativo como barreira física eficiente, enquanto uns diziam que o preservativo eram os médicos controlando a sexualidade.
Em 28 de junho de 1997, São Paulo, fez a primeira Parada do Orgulho com 2,5 participantes desfilando, inclusive eu, na Avenida Paulista, sempre no mês de junho em referência ao dia 28 do Orgulho. Esse ano a data é 2 de junho sendo considerada a maior do mundo.
Nós gays barbudos do GGB não gostávamos da ideia da festa, uma reunião que ocorreu no Trapiche Adelaide em 1999 com uns gays paulistas, Lícia Fábio, Marcelo Cerqueira e Luiz Mott nos encorajou começar essa trajetória de lá para cá não paramos.
A 1ª edição Parada Gay da Bahia, seguindo a lógica foi em 16 de junho, Campo Grande, às 15h, embaixo de muita chuva. Não foi um passo para as ruas! Era tudo muito novo, tivemos que aprender com quem sabe, a Saltur, órgão da Prefeitura de Salvador. Merina Aragão, gerente do Carnaval, generosa deu toda orientação de como fazer, as licenças públicas necessárias e no dia da Parada estava o Campo Grande ordenado o espaçamento para as saídas dos trios, foi continua sendo comprometida.
O prefeito Imbassahy na época foi grande parceiro, abriu as portas da Prefeitura de Salvador para os gays entrarem, em uma reunião no Palácio disse “ A cidade é vocês, podem ocupar. Estou aqui para segurar”. O jornal Folha de São Paulo uma estimativa de 20 mil participantes, um palco na Castro Alves onde o padrinho Edson Cordeiro fez um show especial. A primeira mudança que ocorreu na logística do evento foi a mudança certa de junho para setembro na III Parada do Orgulho Gay dia 8 teve como Madrinha Ivete Sangalo.
Seguimos a orientação Imbassahy que ficamos 20 anos colorindo com as cores de arco íris o Centro da velha São Salvador, esse ano vamos unir as nossas cores com o colorismo sofisticado da Barra no 21a Parada do Orgulho da Bahia, dia 8 de setembro 2024.