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Falares LGBT+

MARCELO CERQUEIRA, Instagram @marcelocerqueira.oficialhttps://www.instagram.com/p/C9GGqYdpDVl/?igsh=Y2c4dTg3eG1rOXpq https://www.instagram.com/marcelocerqueira.oficial

A subcultura LGBT+ se destaca na atualidade pela diversidade de expressões singulares, refletindo a vivacidade e resistência das suas comunidades. Essas expressões são símbolos de identidade, resistência e pertencimento, evoluindo rapidamente e incorporando novas nuances regionais.

A linguagem, além de ser um instrumento poderoso de identidade e comunicação, cria laços internos de proteção e solidariedade mecânica aos perigos e hostilidades externas. O que se chama de gírias LGBT+ são modos de falar que, na prática, são códigos de afirmação e resistência para poder existir em uma sociedade adversa. Quem argumenta que a subcultura LGBT+ não é cultura certamente não entende a profundidade dessas expressões, que são criadas conscientemente para transformar uma realidade de regiões diversas.

Alguns exemplos de expressões regionais: em Pernambuco, temos “abafa o bofe” e “abafa o caso”. A primeira elogia um pernambucano lindo, enquanto a segunda pede para encerrar uma conversa desagradável. Em São Paulo, “dudum” é uma metáfora para se referir aos boys pretos. A palavra “abalar” expressa a realização com excelência de algum objetivo, significando algo muito bom que a pessoa fez. “Abduzida” descreve alguém vivendo uma paixão cega. Na Bahia, “equê” significa mentir, enquanto as gírias “aqué” significa dinheiro, “aquendar” significa ir fazer algo específico, e “elza” alerta para alguém que rouba, possivelmente derivada do famoso caso de amor entre Elza Soares e Garrincha, em que a cantora teria “roubado” o jogador de outra mulher.

Exemplos de apropriação cultural são as palavras “adé”, “ocó”, e “ocania”, que derivam de línguas africanas do tronco bantu, significando, respectivamente, homossexual, homem hetero e membro sexual masculino. A palavra “alô” é usada para indicar as lésbicas nos terreiros de candomblé da Bahia.

Em 1980, o cantor Moraes Moreira fez sucesso com a canção “Pessoal do Alô”, brincando com os significados da palavra e fazendo alusão a um famoso candomblé de Salvador. Na letra da música, ele canta: “Alô, alô pessoal do alô/ Vai ter auê, badauê, ebó/ Quem é do roçado/ Ralando coco se dá melhor.” Essa música, hoje, talvez não fosse aceita, pois revela algo secreto de uma cultura de forma excludente.

Derivadas da linguagem existente nos terreiros de nação bantu, esses falares tinham a função de ser uma língua secreta, usada inicialmente pelas travestis e depois disseminada pelo universo LGBT+. Termos como “alibã” (policial), “mona” (gays), “amapô” (mulheres), “ajeum” (comida), “otim” (bebida), “edi” (ânus) e “ekê” (mentir) são contribuições valiosas para a composição linguística comunitária LGBT+ e foram além.

Bafão, bofe, babado, fechação, bonita e mara caíram no gosto popular e são utilizados por milhares de pessoas, homens e mulheres, livremente. Isso é muito bom, pois a linguagem é um fator de inclusão, reconhecendo as identidades dentro dessa tapeçaria que é a comunidade LGBT+.

Cada vez que alguém fala ou escreve esses termos, perpetua a forma vibrante como os LGBT+ se comunicam. As mídias sociais têm papel fundamental na disseminação de novas expressões, criando um senso global de identidade.

Os falares LGBT+ cada vez mais revelam criatividade, resiliência, irreverência e humor, apresentando uma força cultural constante para a inclusão. A linguagem é uma ferramenta eficaz de afirmação e celebração das identidades.

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