Foto – Na manhã da última quarta-feira 17/09/14 o corpo de Wanderson Silva, de 17 anos, foi encontrado jogado em um matagal, próximo a Ponte do Baralho, em Bayeux (Paraíba), com um tiro na cabeça e marcas de espancamento.
Salvador, Ba, terça-feira, 13 de janeiro de 2015 – Editoria do GGB – O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulga mais um Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil relativo a 2014. Foram documentados 326 mortes de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo 9 suicídios. Um assassinato a cada 27 horas. Um aumento de 4,1 % em relação ao ano anterior (313).
O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes motivados pela homo/transfobia: segundo agências internacionais, 50% dos assassinatos de transexuais no ano passado foram cometidos em nosso país. Dos 326 mortos, 163 eram gays, 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais e 7 amantes de travestis (T-lovers). Foram igualmente assassinados 7 heterossexuais, por terem sido confundidos com gays ou por estarem em circunstâncias ou espaços homoeróticos.
Em números absolutos, os estados onde mais LGBT foram assassinados foram São Paulo (50) e Minas Gerais (30), porém em termos relativos, Paraíba e Piauí e suas respectivas capitais, são os locais que oferecem maior risco aos LGBT de serem violentamente mortos: enquanto no Brasil como um todo, os LGBT assassinados representam 1,6 de cada um milhão de habitantes, na Paraíba esse risco sobe para 4,5 e 4,1 para o Piauí. Durante décadas, o Nordeste foi à região de maior incidência de crimes homofóbicos: pela primeira vez em 2014, o Centro-Oeste emerge como a região geográfica mais intolerante, com 2,9 de “homocídios” para cada 1 milhão de habitantes, seguido do Nordeste (2,1), Norte (1,5), Sudeste (1,2) e Sul – a região menos violenta, com 0,7 mortes. São Paulo e Goiás foram os estados que revelaram o maior aumento destes crimes, respectivamente de 29 para 50 e de 10 para 21, enquanto Pernambuco e Rio Grande do Sul diminuíram. No Centro Oeste, o Mato Grosso do Sul foi o estado mais violento, (3,8 por milhão de habitantes) e o Distrito Federal, o que registrou proporcionalmente menor número de sinistros (1,0).
Sudeste e Norte estão abaixo da média nacional em número de mortes. No Nordeste a Paraíba é estado mais perigoso, seguido do Piauí e Sergipe, sendo o Ceará e a Bahia os que registraram menor numero de homicídios. Na região Norte, Acre é o mais violento, em oposição ao Pará, menos perigoso. Nos quatro estados do sudeste observa-se pouca variação nessa incidência, de 1,8 a 1,1, sendo o Espírito Santo o mais perigoso e São Paulo o que oferece menor risco. No Sul, em todos estados o risco é inferior a 1 por 1 milhão, sendo o Rio Grande do Sul o mais tranqüilo, 0,4, com 5 mortes para uma população de mais de 11 milhões de habitantes, enquanto o Paraná, com a mesma população, teve o dobro de assassinatos (11).
Quanto às capitais, São Paulo é em termos absolutos a metrópole onde ocorreram mais assassinatos: 16, não sendo registrado nenhum crime em Macapá e apenas um em Porto Alegre, Aracaju, Curitiba e Boa vista. João Pessoa é a capital mais perigosa, com 15,3 vitimas por milhão de habitantes, seguida de Teresina 11,9 e Cuiabá, 10,4. Inexplicavelmente o município de Nova Iguaçu (PR) com 4 assassinatos para 800 mil habitantes, superou o total de doze capitais mais populosas que registraram uma morte.
Segundo o prof.Luiz Mott, fundador do GGB e coordenador dessa pesquisa há mais de três décadas, “os crimes contra LGBT desafiam a imaginação sociológica devido a sua imprevisibilidade: há estados que num ano matam-se mais gays, no outro, mais travestis; em janeiro de 2014 foram assassinados 45 lgbt, caindo para 17 em fevereiro, perfazendo uma média de 27 mortes mensalmente, sem possibilidade de interpretar-se cientificamente tal oscilação; enquanto nos anos anteriores sempre prevaleceu o uso de armas brancas na execução dos homicídios, nesse ano dominaram as armas de fogo. Ninguém consegue explicar tais oscilações anuais. ”
Para o coordenador do banco de dados desta pesquisa, o analista de sistemas Eduardo Michels, do Rio de Janeiro, “a subnotificação destes crimes é notória, indicando que tais números representam apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, já que nosso banco de dados é construído a partir de notícias de jornal e internet. Infelizmente são raríssimas as informações enviadas pelas mais de trezentas Ongs LGBT brasileiras. A realidade deve certamente ultrapassar em muito tais estimativas, sobretudo nos últimos anos, quando policiais e delegados cada vez mais, sem provas e sem base teórica, descartam preconceituosamente a presença de homofobia em muitos desses “homocídios”.
Mott completa: “Lastimavelmente, a violência anti-homossexual cresce incontrolavelmente no Brasil. Nos 8 anos do governo FHC, foram documentados 1023 crimes homofóbicos, uma média de 127 por ano; no Governo Lula, subiram para 1306, com média de 163 assassinatos por ano; em apenas 4 anos, no Governo Dilma, tais crimes já atingiram a cifra de 1243, com média de 310 assassinados anuais – quase o dobro dos governos anteriores. Daí a urgência da Presidenta cumprir sua promessa de campanha de criminalizar a homofobia!”
Perfil das vítimas: Dos 326 mortos, 163 eram gays (50%), 134 travestis (41%), 14 lésbicas (4%), 3 bissexuais (0,9%) e 7 (2%) amantes de travestis (T-lovers).Quanto a idade, 28% dos LGBT tinham menos de 18 anos ao serem assassinados e 68% das vítimas ao serem executadas estavam na flor da idade entre 20-60 anos.
Quanto à composição racial, apesar de faltar informação sobre 30% das vítimas, 54% eram brancos, 41% pardos e 5% pretos.
Os lgbt assassinados exerciam 20 diferentes profissões, confirmando a presença do “amor que não ousava dizer o nome” em todas as ocupações e estratos sociais. Predominaram as travestis profissionais do sexo, 37 das vítimas (12%), seguidas de 13 professores, 8 estudantes, 6 cabeleireiras, incluindo funcionários públicos, comerciantes, aposentados, um padre e um pai de santo.
Quanto à causa mortis, altera-se levemente pela primeira vez a tendência observada em décadas anteriores, quando predominavam as armas brancas: 107 LGBT foram mortos em 2014 com armas de fogo, sendo 105 com facas, estiletes, tesouras, etc; 49 por espancamento, paulada e apedrejamento; 24 por enforcamento e asfixia, constando ainda envenenamento, carbonizado, atropelamento intencional. A violência extremada destas execuções, confirma o que a Vitimologia chama de crimes de ódio com requintes de crueldade, incluindo em muitos casos, tortura prévia, uso de diversos instrumentos, elevado número de golpes ou tiros: variou de 1 a 15 o número de balaços mortíferos, sendo 11 os LGBT que levaram mais de 10 perfurações por arma branca, três mais de 20, chegando um gay a ser morto com 46 facadas. Fotos chocantes e descrição desses cruéis homicídios encontram-se documentados em http://homofobiamata.wordpress.com/
O padrão predominante é o gay ser assassinado dentro de sua residência, com armas brancas e/ou objetos domésticos, enquanto as travestis e transexuais são mortas na pista, a tiros.
Crimes Homofóbicos. Seriam todos esses 326 assassinatos crimes homofóbicos? O Prof. Luiz Mott é categórico: “Sim! 99% destes homocídios contra LGBT têm como agravante seja a homofobia individual, quando o assassino tem mal resolvida sua própria sexualidade e quer lavar com o sangue seu desejo reprimido; seja a homofobia cultural, que pratica bullying contra lésbicas e gays, expulsando as travestis para as margens da sociedade onde a violência é endêmica; seja a homofobia institucional, quando o Governo não garante a segurança dos espaços frequentados pela comunidade lgbt ou como fez a Presidente Dilma, ao vetar o kit anti-homofobia, que deveria ter capacitado mais de 6 milhões de jovens no respeito aos direitos humanos dos homossexuais e mais recentemente, ao ter pressionado os senadores para que não aprovassem o PLLC 122 que equiparava a homofobia ao crime do racismo.”
Para Marcelo Cerqueira, Presidente do GGB, “quando o Movimento Negro, os Índios ou as Feministas divulgam suas estatísticas letais, não se questiona se o motivo de todas as mortes foi racismo ou machismo, porque exigir só do movimento LGBT atestado de homofobia nestes crimes hediondos? Ser travesti já é um agravante de periculosidade face à intolerância machista dominante em nossa sociedade, e mesmo quando um gay é morto devido à violência doméstica ou latrocínio, é vítima do mesmo machismo cultural que leva as mulheres a serem espancadas e perder a vida pelas mãos de seus companheiros, como diz o ditado, ‘viado é mulher tem mais é que morrer!”
O GGB disponibiliza em seu site http://homofobiamata.wordpress.com/ o banco de dados completo com todas as notícias de jornal, vídeos, tabelas e gráficos sobre todos esses 326 assassinatos de LGBT de 2014, assim como o manual “Gay vivo não dorme com o inimigo” como estratégia para erradicar esse sangrento “homocausto”.
Solução contra crimes homofóbicos. Para o antropólogo e decano do movimento lgbt, Luiz Mott, “há quatro soluções emergenciais para a erradicação dos crimes homofóbicos: educação sexual para ensinar aos jovens e à população em geral o respeito aos direitos humanos dos homossexuais; aprovação de leis afirmativas que garantam a cidadania plena da população LGBT, equiparando a homofobia e transfobia ao crime de racismo; exigir que a Polícia e Justiça investiguem e punam com toda severidade os crimes homo/transfóbicos e finalmente, que os próprios gays, lésbicas e trans evitem situações de risco, não levando desconhecidos para casa e acertando previamente todos os detalhes da relação. A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos.”
Para mais informações e entrevistas:
luizmott@oi.com.br – http://homofobiamata.wordpress.com/
Mott (71) 9128.9993 – Cerqueira (71) 9989.4748 – Michels (21) 2148.7074
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