Aparentemente, o empresariado está disposto e atento à todas as tendências. No entanto, o paradoxo é o fato de seguirem atuando e liderando todo esse processo com equipes majoritariamente homogêneas
Por Liliane Rocha / CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, e autora do livro “Como ser uma Liderança Inclusiva”
Há alguns anos, temos afirmado que a inovação é crucial para a perenidade das empresas. Abordamos este tema pelos mais variados prismas, incluindo disrupções tecnológicas emergentes. Aparentemente, o empresariado está disposto e atento à todas as tendências. No entanto, o paradoxo é o fato de seguirem atuando e liderando todo esse processo com equipes majoritariamente homogêneas.
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Esquecem-se que nada é mais disruptivo do que o próprio ser humano, sobretudo quando exerce em alta potência suas habilidades, e que nada traz mais inovação para uma empresado do que equipes diversas e variadas. Neste mês do orgulho LGBTQPIAN+, falarei especificamente sobre como a diversidade sexual, que segue sendo um tabu nas empresas, traz mais inovação para os negócios.
Lembro-me que, segundo a escala Kinsey, cerca de 10% da população é composta por homossexuais, ou seja, 20 milhões de brasileiros. No entanto, segundo o estudo “Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022”, somente 2% do quadro funcional de empresas é composto por homossexuais (gays e lésbicas), e profissionais trans não chegam a 1%.
Alguns estudos têm apontado constantemente a importância da diversidade sexual nas grandes empresas. Hamilton Ferrari e Marlla Sabino, com base no estudo publicado na revista Management Science, também afirmam que diversidade LGBT traz inovação. A pesquisa analisou quase 5 mil empresas dos Estados Unidos, e concluiu que as corporações que adotam regras que protegem profissionais LGBT são mais inovadoras. “Os pesquisadores Huasheng Gao, da Nanyang Business School, de Singapura, e Wei Zhang, da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, observaram que essas companhias apresentaram aumento de 8% nos registros de patentes, em comparação com empresas e estados menos favoráveis a profissionais LGBT”. Além disso, “profissionais com postura ‘pró-LGBT’ tendem a apresentar mais características relacionadas à criatividade, como nível educacional alto, mente aberta, maior disposição a assumir riscos e um background mais diversificado. Já aqueles com atitude discriminatória tendem a ser mais conservadores”.
Outro estudo, encomendado pela Câmara de Comércio LGBT de Wisconsin, e conduzido por pesquisadores da Universidade Marquette, gerou o relatório “Examinando o Impacto da Representação da Liderança Sênior LGBT nos Resultados Empresariais”. O estudo analisou se as empresas tinham ou não pessoas LGBT em cargos de gestão sênior e qual o impacto isso teve nos resultados empresariais. Segundo Jason Rae, presidente e CEO da Câmara de Comércio LGBT de Wisconsin, “este estudo apoia o que temos dito há anos: ter pessoas LGBT em posições de liderança, seja como CEO, proprietário de uma empresa, parte da alta administração ou no Conselho de Administração, é bom para os resultados financeiros de uma empresa. Simplificando, a diversidade é boa para os negócios”.
Nas empresas analisadas pela Gestão Kairós, dentre todos os temas de diversidade e inclusão, o maior índice de ocorrência de discriminações e preconceitos está justamente na temática da diversidade sexual; 33% delas estando relacionadas à Orientação Sexual e Identidade de Gênero.
Liliane, isso quer dizer que somente pessoas LGBTQPIAN+ são inovadoras? Não, não é isso que estou dizendo aqui. Inclusive, se estiver fazendo esta pergunta, devo alertar vocês de que ela é capciosa. O que estou reforçando, com base nas pesquisas e estudos, é que equipes homogêneas, nas quais os funcionários são todos iguais – como é fácil constatar – são menos inovadoras. E que a diversidade, sobre todos os prismas, inclusive o LGBTQPIAN+, gera equipes com diferentes características, vivências, ideias e, portanto, mais diversas.
E, ainda, o comportamento de profissionais que estão aptos a lidar com a diversidade é mais flexível e, portanto, mais inovador, que o de profissionais que se fixam em comportamentos discriminatórios e preconceituosos ao longo de sua carreira.
Em um contexto empresarial que está em constante evolução, a diversidade e a inclusão LGBT+ emergem como fatores indispensáveis para a inovação e performance corporativa. Ao considerarmos a dinâmica do mercado atual, percebemos que as empresas mais bem-sucedidas são aquelas que abraçam a diversidade em todas as suas formas. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que a inclusão LGBT+ seja efetivamente priorizada nas estratégias empresariais. É fundamental reconhecer que a diversidade sexual não apenas enriquece o ambiente de trabalho, mas também impulsiona a criatividade e a capacidade de resolução de problemas.
Ao celebrar o Mês do Orgulho LGBTQPIAN+, há uma oportunidade para as empresas não apenas refletirem sobre suas políticas de inclusão, mas também para se comprometerem ativamente a promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e diversificado. A jornada rumo à inclusão plena é um investimento não apenas na diversidade, mas também na inovação e no sucesso a longo prazo das organizações.
Por isso, se a sua empresa ainda não está atuando na temática LGBTQPIAN+, aproveite a oportunidade, reflita sobre o assunto, trilhe esta jornada. Encerro com seis dicas práticas de como atuar imediatamente:
1.Capte currículos de profissionais LGBTQPIAN+ em organizações que trabalhem com a temática;
2.Prepare o seu RH para coibir a discriminação e LGBTfobia que possam vir a anteceder a contratação;
3.Prepare e conscientize a liderança;
4.Realize um processo constante de educação para diversidade sexual;
5.Realize adequação do nome social para pessoas Travestis e Transgêneras (crachá, login/e-mail, cartão de apresentação etc.);
6.Apoie projetos, eventos e empresas de profissionais LGBTQPIAN+.
*Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, autora do livro Como ser um líder Inclusivo e premiada com o 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders