Salvador, BA, quinta-feira, 10 de outubro de 2013 – Assessoria do Grupo Gay da Bahia (GGB)
Faleceu nessa quinta-feira (10), ás 19h no Rio de Janeiro Gabriela Silva Leite (1951 + 1913) de acordo com informações de amigos o enterro acontece sábado próximo. Gabriela, como era conhecida pelo movimento social lutava contra um câncer na garganta e nós últimos messes passou internada em tratamento intensivo na capital fluminense, não resistindo ao agravo da doença faleceu, deixando filho e marido, companheiros que deram força para que ela pudesse fazer o trabalho de defesa da mulher prostituta.
Apresentava-se como ex-prostituta, formada em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Gabriela trabalhou como prostituta na zona da capital paulista e mudando-se para o Rio de Janeiro em 1992 decidiu fundar a ONG Davida em defesa das prostitutas. Considerada a mais importante liderança orgânica e intelectual da categoria no Brasil com reconhecimento no exterior por seu trabalho social e humanista, defendeu a expressão “Puta” como uma identidade de grupo e candidatou-se a deputada federal em 2010 para trabalhar pela regulamentação da profissão.
Em 2005, parodiando a grife Daslu, envolvida em possíveis escândalos financeiros, Gabriela fundou no Rio de Janeiro a grife DASPU, (Das putas) sendo notícia em todo o Brasil, realizando desfiles com modelos e prostitutas na Cinelândia, centro antigo do Rio, buscando atrair os olhares da sociedade para as condições das mulheres que vivem da prestação de serviços sexuais.
Escritora Gabriela escreveu o livro “Filha, mãe, avó e puta” lançado pela editora Objetiva em 2009 no Rio. Neste livro, ela conta sua trajetória, que culminou com a criação da famosa marca de roupas Daspu e da Ong Davida, símbolos hoje reconhecidos internacionalmente. Também foi personagem do vídeo do filme “Um beijo para Gabriela” com direção de Laura Murray.
O Grupo Gay da Bahia (GGB) teve a confirmação da morte da líder prostituta nessa noite e se convalesce com a dor dos familiares, informando ainda que Gabriela deixa as prostitutas órfãs. “ Ela foi um liderança sem igual, a mãe das putas que dedicou seu tempo, capacidade intelectual e vigor físico para defender a liberdade das mulheres, incluindo o direito de prostituir-se”, diz Marcelo Cerqueira, presidente do GGB que segue para o Rio de Janeiro nesse sábado prestar as últimas homenagens a líder prostituta.
Gabriela deixa saudades de Fortaleza a São Paulo. “Gabriela Silva Leite foi uma mulher Forte Guerreira, sem papas na Língua, aprendi muito e andei guiada por essa estrela que foi ela”, declarou Lívia Horácio coordenadora da ONG Instituto de Orientação para mulheres de Baixa Renda (IOPEM) na capital cearense. Terezinha Pinto da ONG APTA em São Paulo também lamentou a morte da ativista e lembra como se conheceram em São Paulo.
“Gabriela, uma vez no inicio da epidemia de Aids, estava comigo num desses encontros do Programa Nacional de Aids. A noite um grupo de mulheres bebendo e cantando, perguntei a ela se a gente ao fazer prevenção com prostitutas devíamos tirar as mulheres da vida” conta e segue. “E ela calma me perguntou o que eu fazia com as putas que largavam a profissão, se ia atrás delas.. eu fiquei muda porque nunca tinha pensado sobre isso. Então ela me disse: Pois é! Todo mundo tem opção pode ser grande ou pequena”, conclui Terezinha. Gabriela Leite defendia a ideia de que mesmo diante de situações limites de sobrevivência mulheres e homens que trabalham como profissionais do sexo optaram de forma consciente pela atividade que segundo ela, deveria ser reconhecida por lei.
No Brasil não existe lei que puna a pessoa que por livre vontade queira se prostituir, exceto para quem se beneficia com a exploração sexual de outras pessoas. A lei também é rigorosa contra a exploração sexual de crianças e adolescentes e estimula a população denunciar as autoridades por meio do disk 100.