Marcelo Cerqueira @marcelocerqueira.oficioal
Uma das grandes mudanças observadas com o tempo foi a resposta e a interação da população LGBT+ com a realização do 21º Orgulho LGBT+ em uma das áreas mais nobres de Salvador, a Barra, a capital do Orgulho. Os moradores dessa região já estão acostumados com a presença LGBT+, e os frequentadores da comunidade adoram o bairro. A Praia do Porto, por exemplo, é um ponto tradicionalmente ocupado pelos LGBT+ há mais de cinquenta anos. Isso se reflete também na vida noturna, com a famosa Off Club, que fez a Rua Dias D’Ávila ser carinhosamente apelidada pela população de “Beco da Off”, nome que já está enraizado na cultura local. Para reforçar ainda mais essa presença, o Carnaval também tem desempenhado um papel fundamental na integração da comunidade com a região.
A mudança do evento para a Barra não representou nenhum problema para os moradores, e, na verdade, trouxe soluções para a própria comunidade LGBT+. Vários problemas que afetavam negativamente o evento quando realizado no Centro foram resolvidos, e a cada ano a presença de participantes mais engajados tem aumentado. Um casal gay que havia deixado de participar do evento por anos, por exemplo, estava radiante de alegria, especialmente pela sensação de segurança que a nova localização proporcionou.
Muitos destacaram que a dinâmica e o fluxo dos participantes na Orla eram visivelmente diferentes de quando o evento acontecia no Centro. A realização do Orgulho na Barra reforçou valores essenciais entre os participantes, como amizade, gentileza e empatia. A alegria dos grupos de amigos se reencontrando, os abraços longos e emocionados eram reflexos desse novo e acolhedor clima.
Um momento marcante foi ver um homem gay com mais de 60 anos, discretamente emocionado, chorando durante um show no palco da diversidade. Era impossível não se sentir tocado ao ver gerações da nossa comunidade reunidas para celebrar o Orgulho. Também era incrível ver tantas pessoas caracterizadas, as chamadas “montadas”, exibindo toda a sua beleza e estilo.
A presença dos simpatizantes culturais, aqueles que nos apoiam com afeto, mesmo de maneira mais reservada, também foi notável. Esses aliados são fundamentais para fortalecer nossa causa, e foi emocionante ver que eles estavam lá, participando ativamente do evento.
A Parada na Barra trouxe uma nova “fotografia humana”, que se manifestou de maneiras deslumbrantes, ganhando o mundo. A geografia da Barra, mais aberta e acolhedora, proporcionou um ambiente leve, onde as pessoas podiam sentar no gramado, deitar e até trazer seus cães – algo que seria impensável nas ruas do Centro. O gramado do Cristo parecia um grande piquenique, com todos aproveitando o momento.
Ao pé do Cristo, uma das áreas mais icônicas da cidade, vi pessoas de todos os tipos – algumas sentadas, outras deitadas na grama, muitas em grupos, conversando e celebrando juntas. A atmosfera de convivência e harmonia era algo que eu nunca havia presenciado antes. Ali, a democracia LGBT+ estava em plena ação, com pessoas de diferentes idades, estilos e identidades se misturando naturalmente, em respeito e celebração.
Entre tantos momentos de alegria e orgulho, algo que se destacou foi o retorno dos gays com corpos esculpidos nas academias da cidade. Na Barra, eles apareceram em grupos, exibindo seus corpos “body beautiful” sem camisa e sem vergonha de se mostrar como parte do evento. Era inspirador ver tantos jovens, idosos, trans, solteiros e casais celebrando juntos. Isso mostra como o evento evoluiu, tornando-se um espaço de acolhimento e celebração para todos, independentemente da identidade de gênero ou orientação sexual.
Além de toda essa experiência presencial, o impacto digital também foi impressionante. O Instagram do GGB não parava de receber marcações. As pessoas estavam registrando cada momento e compartilhando nas redes sociais, criando uma mobilização digital que ampliou o alcance do evento. As fotos, vídeos e histórias compartilhadas mostravam a felicidade e o orgulho de estar presente, e a interação constante com a comunidade online só reforçou a importância e relevância do Orgulho LGBT+ na Barra.
Agradecer ao apoio da Prefeitura de Salvador, Dow Quimica, Embasa e Governo da Bahia. AmaBarra, PM, IPHAN, Bombeiros Militares, Polícicia Civil, SEMUR, Transalvador, SEDUR, SEMOP, SMS, SALTUR, CLE, Estação da Lapa, Ufba, Escola de Belas Artes, Uranos, Conselho de Psicologia, SETUR, SETRE, SJDH, SECULT/BA, SESAB, Correio da Bahia e todos que acreditaram e apoiaram.