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Vamos fazer deste azedo limão, uma boa e santa limonada!

Luiz Mott e Sérgio Viulla, 1-8-2013

mottEnquanto alguns militantes deixaram-se entusiasmar pela simpáticas  palavras do Papa Francisco, outros chegaram a participar de suas celebrações e defender a Igreja Católica com ardor fundamentalista, a maioria dos participantes das listas e redes sociais interpretou como oportunismo e demagogia a fala do soberano pontífice católico. Uma análise objetiva e comparativa de seu discurso  revela que não houve mudança ou progresso algum em relação às declarações dos ultra homofóbicos João Paulo II e Bento XVI, que resumiram a cruel homofobia católica neste anátema: “a homossexualidade é intrinsecamente má!” Discurso que assemelha-se ao dos evangélicos fundamentalistas: “amar o pecador e odiar o pecado!” Francisco referendou essa mesma tradição homofóbica ao confirmar sua obediência e manutenção do Catecismo da Igreja, embora tenha se referido igualmente à  face cor de rosa dos documentais papais anteriores: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la. O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade.

Entre os críticos que denunciaram o entusiasmo infundado dos que viram no discurso de Francisco uma abertura para nossa cidadania LGBT, dois respeitados ex-religiosos com longa experiência e produção intelectual sobre cristianismo e homofobia: o ex-pastor Sergio Viula, do RJ e o ex-frade dominicano Luiz Mott, decano do MHB e fundador do Grupo Gay da Bahia, seguidos por muitos outros militantes históricos que endossaram tais críticas. Não vacilamos nem nos acovardamos ao divulgar nossa avaliação e recado críticos enquanto conhecedores dos limites e subentendidos das declarações de Francisco. A História não se esquecerá de recuperar nosso posicionamento corajoso e esclarecido, assim como os episódios deploráveis de pressão homofóbica do então Arcebispo Bergoglio e mesmo depois de eleito papa, junto a autoridades civis para que não aprovassem o casamento homoafetivo. As futuras palavras e ações de Francisco mostrarão se de fato, suas belas palavras produzirão bons frutos contra a homofobia. Lastimável que pretenda canonizar o homofóbico papa polaco e  tenha assinado sua primeira  encíclica com o inquisidor mor onde só a família heterossexual é abençoada.

Marcada nossa interpretação crítica do discurso papal, agora é momento de fazermos desse limão azedo, uma doce limonada. Francisco é nosso mais importante  INIMIGO UTIL. Inimigo sim, pois só aceita na igreja gay casto, celibatário, e gay sem homoerotismo murcha, perde sua alegria de viver, vive no inferno. Vamos usá-lo e às suas palavras de acolhimento relativo, como bandeiras para diminuir o peso da cruz que sua própria igreja, por dois mil anos, impõe a quem ousa se afirmar e comportar como LGBT. Ele e suas palavras são a partir de agora nosso escudo, nosso amparo, nosso passaporte e password para com suas mesmas palavras, confrontar qualquer insulto, comentário ou prática homofóbica. E tentarmos fazer da igreja católica no Brasil, se não nossa aliada, quando menos, que deixe de ser nossa inimiga.

Temos de ter na ponta da língua essa resposta: “Se até sua santidade o papa disse que não pode julgar se uma pessoa é gay/LGBT, quem é você ou sua igreja para nos julgar?!” Outra resposta face a qualquer discriminação: “Obedeça ao que o Papa determinou: nenhum gay/lgbt deve ser discriminado, mas integrado à sociedade. Me respeite!”

Mais do que assumir sempre tal postura de resistência à homofobia do dia a dia  usando as palavras do papa, temos sim que pressionar a Igreja Católica nas nossas respectivas cidades e estados, a seguirem o determinado pelo Soberano Pontífice: nada de crítica, respeito e integração social. E de quebra, cobrar das demais religiões atitude mais gayfriendly para nossa comunidade.

A ABGLT e demais associações nacionais LGBT vacilaram em não ter-se posicionado publica e criticamente, alertando que as palavras do papa não passam de migalhas, posto que continua prevalecendo o catecismo católico, que mantem as portas fechadas para o sacerdócio feminino, preservativo, aborto, divorcio, pratica homoerótica, etc. Contudo, a ABGLT sugeriu acertadamente contatar a CNBB para dialogar. Ótimo, embora ateu militante, sempre defendi que os lgbt religiosos mantenham diálogo e influenciem suas igrejas para acolher com respeito e igualdade, também nossa comundiade. A carta do GGB advertindo ao Francisco que não falasse contra os direitos lgbt foi publicada em toda a mídia uma semana antes de sua chegada ao Brasil, ocasião em que estimulamos aos peregrinos gays que defendessem seu direito como católicos filhos de Deus e  templos do Espírito Santo. Fundamos mesmo, nos anos 80, a Associação Cristã Homossexual do Brasil, que tinha entre seus objetivos, estimular aos religiosos homossexuais que se organizassem em grupos específicos, exigindo de seus ministros atenção pastoral particular e diferenciada.

Como fazer a tal limonada adocicada com as palavras do Papa Francisco? Eis algumas sugestões:

  • ·       1. Solicitar imediatamente um encontro formal com a CNBB, com a presença de uma meia dúzia das principais  lideranças LGBT ligadas à questão religiosa, supra/intergrupal, para se discutir uma agenda de ações pastorais em nível nacional/local para dar assistência religiosa a católicos que carregam a cruz de ser homossexuais, inclusive a revisão da excomunhão do padre Beto de Bauru
  • ·       2. Estimular aos grupos e associações do nosso movimento que promovam  reunião imediata de lgbt católicos, para solicitarem encontro formal com a maior autoridade eclesiástica local, ou quem esta nomear, para discutir ações concretas de atendimento e acolhimento pastoral a lgbt católicos em todos os estados e capitais

a fim de discutirmos estratégias para iniciar este diálogo com a hierarquia católica  nacional e local,assim como criar núcleos em todos os estados da diversidade católica, mapeando entidades congêneres que já existam em funcionamento e possam participar nesta cruzada, inclusive obtendo o apoio de grupos católicos e autoridades eclesiástics internacionais gayfrindly, como o bispo mexicano D. Raul Vera Lopez, grande defensor do diálogo da igreja com LGBT

  • ·       4. É fundamental que tais ações tenham um caráter supra/intergrupal e ecumênico, tanto no interior do movimento lgbt, quanto na participação de religiosos de outras denominações, daí o convite para as igrejas lgbt e inclusivas que participem desta iniciativa, socializando sua experiência no pastoreio deste rebanho.

Fica lançada a ideia. Bem-vindas todas pessoas  interessadas em concretizar tais ações.  Vamos potencializar ao máximo as belas e amorosas palavras do chefe da maior religião do mundo, a que tem historicamente as mãos mais sujas de nosso sangue, para criar um clima de simpatia e acolhimento a nosso povo lgbt. Contem comigo nesta cruzada pelo respeito à regra de ouro deixada por Jesus: “amai-vos uns aos outros”. E termino com a mensagem do discípulo que Jesus amava, João Evangelista: “Onde há amor, Deus aí está!”

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