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O Retrato Falado de Xica Manicongo

O Retrato Falado de Xica Manicongo /Por Prof. Dr. Luiz Mott

Convite para ver a exposição O Retrato Falado de Xica Manicongo, uma homenagem a Xica Manicongo, reconhecida como a primeira pessoa trans registrada no Brasil, vítima da Inquisição Portuguesa. A exposição estará aberta ao público de 1 a 30 de setembro, na Escola de Belas Artes da UFBA, no bairro do Canela, em Salvador. Trata-se de uma reinterpretação artística que busca resgatar sua história e celebrar sua resistência em meio às opressões coloniais. Uma obra realizada tendo as características da época e do seu grupo étnico com orientação do professor Luiz Mott.

Xica Manicongo, nascida no Reino do Congo, foi trazida para a Bahia como escravizada no final do século XVI. Acusada de “servir de mulher no pecado nefando” e de recusar-se a usar roupas masculinas, foi denunciada à Inquisição por Matias Moreira, um cristão-velho de Lisboa. A denúncia não se referia apenas à sua condição de cativa, mas também à sua expressão de gênero, considerada subversiva para a moral europeia. Xica utilizava um pano cingido, tradição comum entre os quimbanda do Congo e Angola, pessoas que desempenhavam papéis de gênero feminino ou eram vistas pelos europeus como “sodomitas”, termo pejorativo utilizado para descrever comportamentos e identidades divergentes das normas sexuais da época.

Os quimbanda, no contexto cultural do Congo e de Angola, eram aceitos e respeitados, representando uma visão de gênero e sexualidade muito mais diversa do que a que prevalecia no Brasil colonial. Contudo, ao ser forçada a viver em uma sociedade dominada pela Igreja Católica e pela moral cristã, a expressão de identidade de Xica foi tratada com desprezo e violência. A Inquisição punia e buscava apagar as tradições culturais africanas que viam como ameaças à sua ordem social. A denúncia contra Xica, por se recusar a vestir roupas masculinas, revela as formas brutais de controle que o sistema colonial exercia sobre os corpos e identidades das pessoas escravizadas.

Em 2010, a Associação de Travestis do Rio de Janeiro (ASTRA) rebatizou Francisco Manicongo com o nome social de Xica Manicongo, em uma tentativa de reabilitar e resgatar a memória dessa figura histórica. A partir desse reconhecimento, Xica se tornou um símbolo de resistência e luta para a comunidade trans brasileira. A exposição O Retrato Falado de Xica busca justamente trazer à tona essa história, antes esquecida e marginalizada, oferecendo uma reflexão sobre a violência histórica e o apagamento de identidades diversas no Brasil colonial.

A reabilitação da história de Xica Manicongo nos leva a refletir sobre como as noções de raça, gênero e sexualidade foram utilizadas como ferramentas de opressão ao longo da história. Ao mesmo tempo, sua história é um lembrete de que, mesmo nas condições mais adversas, sempre houve resistência. Xica Manicongo representa essa resistência. Ao recusar as normas impostas, ela se afirmou como um símbolo de luta por liberdade e dignidade.

A obra exposta apresente uma nova visão sobre a vida e o legado de Xica, oferecendo ao público a oportunidade de reimaginar essa figura histórica e reconhecer sua importância para a luta contemporânea por direitos trans e LGBT+. Integra a VIII Semana da Diversidade Cultural de Salvador, apoio Embasa.         

Data: de 1 a 30 de setembro
Local: Escola de Belas Artes da UFBA, Canela, Salvador
Entrada Gratuita

Xica Manicongo: 1ª Travesti do Brasil, Luiz Mott

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