Salvador, 27 de agosto de 2017 – Por GGB. Se os dados apresentados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) relativos aos crimes praticados contra lésbicas, gays, travestis e pessoas transexuais na Bahia em seis anos, se não revelassem nome, sobrenome, idades, dia, data, hora, causas mortis das vítimas, se os corpos abatidos das vítimas não revelassem a brutalidade do requinte de crueldade, se não houvesse a dor real de parentes e amigos que choram a morte intempestiva de uma pessoa querida, tudo isso poderia ser parte de uma ficção policial, ocorrida na Bahia, falsa terra da felicidade.
O site homofobiamata do GGB revela que no período de 2011 á 2016 a Bahia foi tricampeã na região Nordeste com 167 crimes contra LGBT em seis anos. A homotransfobia não para de fazer novas vítimas de janeiro até agosto de 2017 já são 24 casos ocorridos no Estado. Não podemos continuar pagando com as nossas vidas o preço de sermos o que somos.
Para denunciar esse iceberg de sangue a 16ª Parada do Orgulho LGBT da Bahia joga luzes e chama atenção da população LGBT, dos órgãos públicos e população em geral para essa realidade cruel que desonra e desqualifica o Estado comparativamente aos demais da Região Nordeste. O tema da Parada é “A comunidade pede paz” que será impresso em cartazes, placas e folhetos que começam a ser distribuídos na cidade a partir dessa segunda-feira com a finalidade levar mensagem de paz e respeito a diversidade.
Uma análise desses crimes revela o requinte de crueldade como são praticados, revoltando não somente as famílias e amigos das vítimas abatidas, mas toda a comunidade LGBTI que se expressa estressada diante da violência provocada pela LGBTfobia no Estado, acrescentando ainda a falta de uma resposta positiva por parte dos órgãos de segurança estaduais, seja no fortalecimento da comunidade por meio do apoio as entidades associadas a essas populações, ou mesmo na condução do apoio as famílias das vítimas para lidar com essa realidade brutal e adversas qual foram submetidas inesperadamente. “ É tanto sofrimento, dor, solidão, desamparo que se torna inadmissível que a LGBTfobia ainda não seja crime no Brasil”, diz Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, em tempo que chama atenção para a falta de apoio e suporte de órgãos públicos para esse drama social. “ A homofobia é o mal do século, e o seu combate não significa fazer propaganda de orientação sexual, mas de direitos, embora a homofobia institucionalizada nos órgãos públicos e nos dirigentes, torna a luta menor” revela Cerqueira.
Os casos de homofobia institucional são alarmantes. Em 8 de janeiro os primos Carla Rafaela Silva, de 28 anos, e Isac Pereira da Silva, de 22 anos, foram barbaramente espancados por Policias Militares em Riacho de Santana. Em 16 de agosto de 2016 a comerciaria transexual Natila Mota foi esfaqueada por um grupo de transfobicos e no Hospital Municipal de Maiquinique, sudoeste baiano, implorava por socorro aos enfermeiros que negligenciavam a sua convalescênça, enquanto o Policial Militar de plantão se preocupava em prender em uma sala o marido da trans que além de ferido gritava por ajuda de alguém a sua companheira que perdia sangue. Todos os servidores deveriam serem enquadrados por prevaricação, omissão de socorro, mas nada ocorreu, até hoje justiça não foi feita. A LGBTfobia institucional não pára. Em 5 de dezembro de 2016 após ter sido espancado por vizinhos, ter fraturado o maxilar Jonas Nascimento Souza, 29 anos, foi expulso da enfermaria do Hospital Geral do Estado,porque se recusou a engolir um coo de sopa, foi oprimido pela nutricionista, enfermeira e expulso por um médico suposto dono do Hospital, como se referiu “Meu hospital”.
A 16ª Parada LGBT através da VI Semana da Diversidade abre o debate sobre a urgência de tipificar a homofobia como crime de ódio no Brasil. A homofobia interna e externa empurra as pessoas para uma vivência clandestina de sua orientação sexual, o que faz desse individuo um ser vulnerável física e socialmente, obrigando-os muitas vezes viver em ambientes clandestinos, violentos e insalubres. Para o operador do Direito Dr. Dimitre Sales “ao reconhecer diferenças a partir do critério sexualidade numa sociedade homofóbica, reconhece-se que as condições sexuais de cada pessoa são fatores que a vulnerabilizam. Um dos mecanismos que permite a plena realização da cidadania de pessoas LGBT é o enfrentamento aos crimes de ódio, possível por meio da criminalização da homofobia”.
A 16ª Parada do Orgulho é uma realização do Grupo Gay da Bahia e do Grupo Quimbanda Dudu, acontece em Salvador no dia 10 de setembro, entretanto, de 4 a 9 ocorre a VI Semana da Diversidade. São objetivos da 16ª Parada promover a cultura, cidadania e os direitos humanos dos LGBT na Bahia através da realização de eventos de visibilidade massiva com foco na cultura da paz, amizade e respeito à diversidade humana e representações artísticas. Estimular de forma organizada a ocupação de espaços públicos para proporcionar uma troca efetiva entre todas as categorias sociais, elevar a auto-estima dos homossexuais e transexuais e sensibilizar o Estado e a sociedade em geral para o convívio pacifico com as diferenças.
ESTATÍSTICAS DE CRIMES LETAIS CONTRA LGBT
2016 – 32 MORTOS
2015 – 33 MORTOS
2014 – 25 MRTOS
2013 – 20 MORTOS
2012 – 29 M0RTOS
2011 – 28 MORTOS
2017 – 24 MORTOS