Foto: Meramente ilustrativa.
Salvador, Bahia, 29 de novembro de 2017. Por MARCELO CERQUEIRA.
Após decisão do Conselho Nacional de Justiça, aprovada em Maio de 2013, que regulamenta as Uniões entre Pessoas do Mesmo Sexo, de lá para cá, em quatro anos, 19.522 casais LGBT formalizaram a união, é o que revelou uma pesquisa Estatística de Registo Civil realizada em 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), divulgada em 14 novembro, chamou atenção da sociedade para o tema.
Esses dados são animadores, sem dúvida, um grande avanço na conquista e manutenção dos direitos, o que é importante para a manutenção do pacto social, por outro lado esses dados são tímidos considerando o Brasil e suas alteridades sociais, geográficas e econômicas. Sem ter intenção de desqualificar os dados, muito pelo contrário, mas reconhecendo que é importante existir casamentos porque essa instituição ajuda a diminuir os estigmas por apresentar o amor romântico, uma normalidade e igualdade das relações homoafetivas em seus territórios de identidades e vivências, comunidade, trabalho, educação e vida social.
Mesmo que pese, uma relativa normalidade, a partir da decisão do casal em assumir a relação considerando um panorama social, favorável, seria interessante analisar as reações sociais a essa conquista, e outras, talvez relacionando com o aumento de casos de violência homofóbica e intolerância. De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, a cada 24h um LGBT é assassinado no Brasil, isso sem dúvida provoca um a retração mesmo que muitos LGBTs vivam informalmente a relação, mas que, diante disso, não se sintam encorajados a tomarem a decisão, ou mesmo ainda não sintam a necessidade de fazer isso. Quando falo em normalidade penso em perspectiva, ao que que sabemos é que ainda falta muito para a sociedade brasileira chegar nesse nível, ver essa realidade como normal.
O estudo não revela os aspectos que originam essas uniões, não se refere as expectativas dos casais LGBT, que são absolutamente diferentes das expectativas dos casais heterossexuais. Discutir essas expectativas é um aspecto importante porque elas são por demais distintas e revelam o quanto é falsa a ideia de que essas uniões destroem outras, isso não é verdade.
As uniões LGBT são forjadas primeiramente na amizade e em seguida do amor romântico isso no sentido bem clássico. “O amor romântico vende um ideal de parceiro perfeito, que tem a responsabilidade de nos fazer feliz e suprir necessidades sociais e sexuais”, talvez isso não possua muita diferença, mas o aspecto da amizade sim.
O modelo das uniões LGBT são focadas na amizade. Não existe necessariamente a expectativa de gerar filhos, mesmo que eles possam vir junto com o relacionamento, ou inseridos por métodos, adoção, mas eminentemente a família são os amigos, o amor é o romântico, isso porque essencialmente quando dois homens ou duas mulheres se unem, formalmente, necessariamente não estão pensando em dividir patrimônio. Mesmo que isso seja uma condição para garantir direitos sociais, respeito, inclusão e proteção segura nas ausências de um dos cônjuges.
É falsa a ideia que os LGBT querem se unir da mesma forma que os casais heterossexuais. Mesmo que pese as estatísticas, os outros arranjos afetivos são consideráveis e não foram considerados na análise. Os casais LGBT rompem com a fantasia do sistema de um modelo opressivo de casamento heterossexual e faz a separação de que amor não é sexo, e nem propriedade, isso revela que é possível construir outros tipos de relações, inclusive dentro da relação, true love, poliamor que é o amor dividido entre outros. Isso é parte da felicidade e da elevação do amor, de um ao outro, no entendimento de que por mais amor, sexo, carinho, atenção que uma pessoa ofereça a outra não é suficiente porque o outro sempre tem desejos, vontades, fantasias e as vezes o parceiro não é capaz de oferecer. Não há possibilidade de um tesão ser compartilhado com uma única pessoa a vida inteira. Isso é uma mordaça do sistema!
Eu tenho a dimensão de que falar, escrever sobre essas coisas é como se andar sob o fio da navalha sem cortar os pés, ou ainda em um campo minado. Arrisco dizer que os LGBT são românticos e isso deu um novo significado ao amor, o que obviamente não é o mesmo significado do amor heterossexual.