Foto: Felipe Martins: (E) Sandra Farias,trans pernambucana, venceu por três anos consecutivos. (D) Gerando Correia Pontes, segundo lugar com “Iansã, deusa dos raios..”
Salvador, Bahia, terça-feira, 9 de fevereiro de 2016 . Do GGB –
Era por volta das 18h quando o ator transformista André Luis Silva, 50 anos, caracterizado de sua personagem Bagagerie Spilberg, sobe a rampa de acesso a passarela para apresentar o XIX Concurso de Fantasia LGBT da Bahia, na Praça Castro Alves, segunda-feira (8). Neste ano, a transexual pernambucana Sandra Farias, 45 anos, manteve o seu favoritismo e ganhou mais uma edição, levando consigo o prêmio de R$ 6 mil. “Eu adoro Salvador, fico muito feliz que existam pessoas que promovam essa nossa arte”, declarou Sandra, logo após sua vitória.
Na categoria luxo a disputa não foi fácil, mas a favorita venceu, usando a fantasia “Uma saudação africana ao rei” que pesava nada menos que 47kgs, confeccionada em paetês, lantejoulas, penas de faisão e de galo, consideradas nobres.
Os demais eleitos foram Gerando Correia Pontes, natural de Juazeiro, Bahia; Lilian Ariela, de Itapissuruma, Pernambuco; e Barbara Pontes de Assis, de Salvador, Bahia. Já na categoria originalidade, o primeiro lugar foi para Severino Queiroga da Silva, de Juazeiro, vestindo a fantasia Dekameron, que arrematou o prêmio de R$ 5 mil. Edson Francisco de Lima, Ivo Lancelote e Ozir França ficaram em segundo, terceiro e quarto lugares respectivamente.
A realização do XIX Concurso de Fantasia LGBT da Bahia, no Carnaval de Salvador, objetiva fortalecer a identidade do segmento e o ativismo contra a homofobia por meio da produção artística integrada a essas populações. A iniciativa coaduna com o esforço coletivo de fortalecer e promover o Carnaval do centro da cidade e divulgar a tradição de fantasiar-se para brincar o carnaval, um aspecto de nossa cultura que foi se perdendo ao longo dos anos.
Pela primeira vez o GGB convidou uma atração musical para fazer parte do evento. A cantora Ayla Menezes subiu ao palco por volta das 22h e finalizou o evento às 2h30 da terça-feira, com show dançante e muitas modinhas dos carnavais antigos. Já a cantora Vercia, que constava da programação, por problemas operacionais no palco não pôde se apresentar. O evento é uma realização do Grupo Gay da Bahia (GGB), Quimbanda Dudu com apoio da prefeitura do Salvador através da Saltur.
BETHÂNIA – Antes de chamar seus colegas de ofício, Bagagerie Spilberg, que é aficionada pela cantora Maria Bethânia, cita em versos trechos de canções da santamarense. Ela faz alusão à homenagem que a escola de samba carioca Mangueira faria à diva baiana naquela noite. Então, sobe ao palco a apresentadora Michelle Loren, pele negra, cabelos longos e loiros, olhos azuis, trajando um vestido transparente coberto de pedras coloridas.
Logo em seguida, Bagá – como é carinhosamente apelidada no meio –, chama Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), que é convidado para compor a equipe de apresentação do desfile. “Estamos felizes em ocupar esse solo sagrado, nosso por usucapião e queremos fortalecer esses locais como territórios de identidades que fortalecem a nossa cultura” afirmou Cerqueira. “Queremos o nosso lugar no carnaval, na festa e na distribuição das riquezas desse momento, queremos o melhor para o nosso povo LGBT, como política de recompensa as desigualdades” concluiu, pedindo ainda a imediata instalação do Centro de Referência LGBT de Salvador, projeto fruto da articulação do GGB com o mandato da então vereadora Fabíola Mansur, sancionado pelo prefeito municipal ACM Neto, em setembro de 2014, sem ainda entrar em operação.
Bagagerie chama ao palco o primeiro de dez shows transformistas e de bonecas como Bia Mathieu Semanovischi, que se apresentou dançado musicas interpretadas por Claudia Leitte, a artista trans, se intitula cover da cantora em suas apresentações onde esbanja beleza, versatilidade e muito talento.
Considerada pelo público LGBT um grande talento, Gina de Mascar, personagem criada pelo ator Aldo Zack, estrelou na Praça incorporando Bibi Ferreira, que incorporou Edith Piaf no Bibi in Consert I do ano de 2009, cantando mulher rendeira em inglês, português, italiano e em francês. O público adorou as irreverências de Gina e o seu humor especial.
Esbanjando molejo e sensualidade, trajando malha colada na pele, tênis coloridos e cabeças cobertas de penas vermelhas que desciam até a região da cintura, os bailarinos jovens Willian e Iury do Four Project estrearam no Praça as suas criações e pesquisas em dança moderna, usando os limites de flexibilidade do corpo sem perder a graça e a sensualidade. Fizeram trecos de musicas conhecidas no Brasil e internacional.
Também se apresentaram na passarela vermelha a plus size Nathalia Stryker, Scarlet Sangalo, cover da cantora Ivete Sangalo e Zuzy D`Costa, ex miss Bahia e cover da cantora Norte Americana Beyoncé. Houve ainda disputa de bate cabelo com Asla baterflyr e Ludmilah.
Na parte baixa do palco os candidatos, ansiosos, prontos esperavam sua vez de pisar na passarela. O concurso oferece as categorias luxo e originalidade, dispõe de 29 mil reais em dinheiro para ser dividido entre os primeiros quatros premiados nas duas categorias. Os candidatos que concorriam em originalidade foram os primeiros exibir suas produções, seguido da categoria luxo, esperada com grande expectativa. A passarela ficou pequena para tantas plumas e penas raras.
A classificação passou por um olhar apurado do corpo de jurados, composto por Vilson Caetano, Javier Angonoa, Beth Dantas, Inês Silva do Grupo Mães pela Diversidade. Os jurados atentos aos movimentos dos candidatos votavam declaravam seu voto aberto para que Bagagerie anotasse em uma caderneta.
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